Padre Wagner foi degolado enquanto rezava 'Ave Maria': crime chocou São José em 2003


Criminosos envolvidos na morte de padre Wagner foram condenados a penas que variam de 27 a quase 36 anos de prisão.

Final de setembro de 2003. Sacerdote na Paróquia de São Benedito, no Alto da Ponte, zona norte de São José dos Campos, Wagner Rodolfo da Silva, que era devoto de Nossa Senhora, se preparava para um outubro cheio de celebrações em homenagem à Padroeira do Brasil.

Depois de muito trabalho no final de semana, de visitar a família no domingo a noite e do merecido descanso na segunda – dia de folga para os sacerdotes –, padre Wagner trabalhou normalmente na terça-feira, 23 de setembro, e foi dormir na casa paroquial.

No entanto, aquele seria um dia trágico na vida do sacerdote, que tinha 35 anos de idade e era padre há cinco. Outro padre que morava ali, Manoel Serafim de Lima, como depois apontou a investigação policial, mantinha encontros secretos com jovens na periferia de Jacareí. Nesse dia, ele e um rapaz caíram numa emboscada feita por jovens que Lima conhecia, e que o obrigaram a voltar à casa paroquial. Então, o grupo sequestrou os dois padres, Lima e Wagner, este acordado do sono dos justos para nunca mais voltar à paróquia que tanto amava.

Os criminosos também levaram objetos de valor da igreja. O bando ainda tentou tirar dinheiro de caixas eletrônicos com cartões dos padres, que acabaram esfaqueados. Padre Wagner foi degolado enquanto rezava uma Ave Maria. O corpo dele foi encontrado na área rural de Santa Isabel. Lima, que sobreviveu às facadas, foi suspenso pela Diocese de São José dos Campos. 

Ele acabou indo lecionar no interior de Goiás, como revelou OVALE em 2010. Os criminosos envolvidos na morte de padre Wagner foram condenados a penas que variam de 27 a quase 36 anos de prisão. “A gente entrou em desespero. Jamais esperávamos. Ficamos em oração. Minha mãe foi de uma força muito grande. A Diocese resolveu tudo e ficamos em oração para nos despedir dele. Muita tortura para nós”, diz Lucila Auxiliadora Sonoda, irmã do sacerdote.

Para a família, a morte interrompeu uma vida dedicada ao outro, a amar o próximo. “No túmulo dele, que foi reformado, há muitas placas de agradecimento. As pessoas recorrem a ele em oração até hoje”, conta Lucila. Ela e outras pessoas estão terminando um livro com a biografia de padre Wagner, que trará muitos relatos sobre a fama de santidade do sacerdote. A obra deve sair no ano que vem.

A própria Lucila tem a sua história. Ela perdeu o segundo filho e foi consolada por Wagner, que era diácono e rezou com a irmã pela alma do bebê. “Ele sofreu muito”, diz ela. Em 2005, dois anos após a morte de padre Wagner, Lucina descobriu que estava grávida após uma cirurgia. Teve complicações e, mesmo assim, o bebê nasceu saudável e muito parecido com o que havia morrido. “Vieram me falar que aquele era o filho que havia morrido e que meu irmão tinha trazido de volta”, conta ela. Eis a fé.

Xandu Alves.


TEXTO: XANDU ALVES.

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