Assassinato de padre Wagner faz 20 anos; religioso é hoje 'santo popular' em São José

 


Tristeza da morte, que abalou até Jesus, se transforma na alegria da eternidade, reverenciada na vida de padre Wagner.


O choro de Jesus. Rodeado pelos discípulos no Getsêmani, Jesus Cristo rezou: “Meu Pai, se possível, afasta de mim este cálice”. Naquela noite, Jesus chorou. Em meio à tristeza, o sinal de humildade e fé: “Contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres”. A vida não é a que queremos, mas a que vivemos, ensina o mestre: “Se não for possível afastar este cálice, faça-se a tua vontade”.

Também em São José dos Campos, numa noite trágica de setembro de 2003, milhares de discípulos choraram. Foi servido a eles o cálice amargo da violência. Com apenas cinco anos de sacerdócio, a tragédia levou a vida de Wagner Rodolfo da Silva, aos 35 anos. Uma violência bárbara, inexplicável, cujas feridas doem até hoje. “Não esquecemos e a dor é a mesma. A gente fala, lembra e chora. Não sabemos até hoje o motivo de ele ter sido assassinado. Mas confiamos na justiça de Deus, que é eterna.” As palavras da cabeleireira Lucila Auxiliadora Sonoda, 53 anos, tocam fundo na alma da população joseense.

FAMÍLIA

Lucila é irmã de padre Wagner, o homem cuja morte completa 20 anos e cuja vida comove milhares de devotos. Considerado um santo popular, Wagner é, na eternidade, o retrato do que foi em vida. “Seus cinco anos de padre parecem 50 anos. Com o carisma dele, atingiu o coração das pessoas”, diz a irmã. Segundo mais velho entre sete filhos – o primeiro morreu aos 3 anos –, Wagner cresceu em uma família devota, trabalhadora e alegre de São José. As dificuldades financeiras eram superadas com fé e dedicação. Desde criança, o menino seguia os passos do pai e participava das atividades da igreja, ao lado dos irmãos, que eram seu 'povo de Deus' quando ele 'rezava' suas missas em casa, ainda moleque. “Ele brincava de padre e a gente era o povo. Pegava lençol da minha mãe e fazia de padre. Tinha essa vocação desde criança”, conta Lucila.

FORMAÇÃO

Na adolescência, Wagner entrou para o seminário em Aparecida, para formar-se padre missionário redentorista. Mas Deus tinha outros planos. “Ele ficou um tempo lá e precisou sair, porque tinha que ajudar a família em dificuldade. Ele voltou a São José para trabalhar”, diz a irmã. Wagner trabalhou até conseguir retomar os estudos no seminário, desta vez na casa de formação da Diocese de São José dos Campos. Foi ordenado padre em 28 de fevereiro de 1998 e celebrou a primeira missa em 1º de março. Não mais com o lençol da mãe, mas ainda com a pureza da criança sonhadora.

“A figura do sacerdote pode ficar distante das pessoas, mais formal. O padre Wagner sempre foi do povão. Não escondia sua humanidade e isso era o diferencial dele, por ser bem próximo das pessoas”, resume o engenheiro aeronáutico Leandro Silvério, 38 anos, criador do site em homenagem ao sacerdote. Desde 2014, a página recebeu mais de 138 mil visualizações. Silvério conheceu padre Wagner e se emociona até hoje com o que aprendeu com o religioso, que aconselhava com palavras simples e diretas. “Eu me confessava com ele, que me dava conselhos de vida, que trago até hoje. Ele dizia que o pecado é como uma ratoeira, mas nós não somos ratos e temos a escolha de evitá-lo. Penso nisso até hoje.”

ENCANTADOR DE ALMAS

Como Cristo e suas parábolas, padre Wagner encantava a multidão com seu jeito simples e direto de pregar, de coração aberto, pronto para acolher os rejeitados. Ele falava a língua do povo, e era ouvido. Cantava moda sertaneja, e fazia a alma dançar, como rei Davi. “Vâmo Fervê” era um dos seus bordões mais conhecidos. Uma nota de entusiasmo às almas entristecidas. Alegria diante da dor e do desamor. “Ele era muito simples e, por isso, atraía as pessoas menos favorecidas. As missas dele eram num linguajar para o povão entender. Ele dizia: ‘joga um beijo para Jesus’, chamava as pessoas de ‘meus docinhos’, gostava e tinha grande devoção por Nossa Senhora de Guadalupe. Ele colocava as pessoas para cima, era muito carismático. Deixa muita saudade”, diz Jacinta Chagas de Miranda, 66 anos, presidente da Obra Social Padre Wagner, na zona norte de São José.

EM CASA

O bairro de Alto da Ponte e seu entorno, na zona norte de São José, era a ‘casa’ de padre Wagner. Ali ele fez seu ministério e rezou missas em sua curta trajetória sacerdotal, deixando milhares de seguidores. É também ali que a Obra Social Padre Wagner atende cerca de 2.000 pessoas por ano, com diversos serviços e trabalhos, especialmente para gestantes e idosos. Mas também reforço escolar para crianças, atendimento psicológico e muita arte, com aulas de violão, artesanato e crochê. “A obra começou em março de 2006 para continuar o sonho do padre Wagner, de ajudar as pessoas. Começou no salão da Igreja de São Benedito e hoje temos nossa sede própria”, diz Jacinta. No próximo dia 25 de setembro, a partir das 18h30, padre Wagner será lembrado em uma missa no Alto da Ponte, na praça Padre José Rubens Bonafé, que será celebrada por dom Rogério Augusto das Neves, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo. A data não é à toa. Lembra o dia em que padre Wagner foi sequestrado e assassinado por um grupo de criminosos. O corpo dele foi deixado em uma estrada rural de Santa Isabel. Vinte anos depois do crime, padre Wagner é lembrado com amor pelos fiéis.

O túmulo dele no Cemitério Padre Rodolfo Komorek, no centro de São José, tornou-se um ponto de romaria, com dezenas de placas agradecendo graças e até milagres alcançados por intercessão do sacerdote. É mais do que memória. É paixão sobrenatural. Daquelas que transcendem a vida e se eternizam pelos tempos. Padre Wagner viveu intensamente seus 35 anos de vida, cinco de sacerdócio. Deixou marcas profundas na vida do povo. Quem o conheceu, continua com a alma fervendo até hoje.

Xandu Alves.


TEXTO: Xandu Alves.

2 comentários:

  1. Me lembro como se fosse hoje su última missa foi aqui na comunidade Santo Expedito no bairro jagaaari perybon. Lembro que ele deu umas palavras com minha aaae que hoje também é falecida e preocupado despediu nos é dói se embora ,para sempre infelizmente. Onde o senhor estiver Padre Wagner interceda por nós junto a Jesus .Muitas saudades .Amém.

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  2. Padre só deixou saudades mesmo .Muito carinhoso ,simples e humilde eu via no rosto dele o olhar de Jesus .Sacerdote que deixou muita saudade .Onde via a gente dava atenção .

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